"Nunca falei sobre você a
ninguém. Nem vou falar. Não falaria de você nem a você mesmo. Não suportamos
aquilo ou aqueles que poderiam nos tornar mais felizes e menos sós. Ninguém
enche o saco de ninguém, você me deixa em paz, eu te deixo em paz – certo? Tinha terminado, então. Porque a gente, alguma coisa dentro da
gente, sempre sabe exatamente quando termina. Eu disse que sim, claro que sim,
muitas vezes que sim. Gosto de pessoas doces, gosto de situações claras; e por
tudo isso, ando cada vez mais só. O que vai sendo vivido e sentido por cada um
é tão particular que, mesmo incomum ou já cantado em prosa e verso, é para
sempre também único. Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo,e
que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas
falsas. Enfrento, e reconstituo os pedaços, a gente enfeita o cotidiano - tudo
se ajeita. E a vida acontecendo em volta, escrota e nua. O pó se acumula todos
os dias sobre as emoções. Só que as más vibrações desta cidade, God! Nem todo o
sal grosso, nem toda a arruda do mundo dariam jeito. Hoje estou com uma moleza
por dentro, uma coisa que não sei bem explicar como é, parece um imenso tapete
de algodão embranquecendo tudo. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos
dadas e suspiros. Coisas belas, coisas feias: o bom é que passam, passam,
passam. Deixa passar. Tenho aprendido coisas que ainda estão vagas dentro de
mim, mal comecei a elaborá-las. São coisas mais adultas, acho. Tem sido bom.
Acontece que, com ou sem cama, gosto profundamente de você. Ela é intensa e tem
mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo.
Dentro dela tem um coração bobo. Tem dias que eu visto minha fantasia de
otária. Se amanhã o que eu sonhei não for bem aquilo, eu tiro um arco-íris da
cartola. E refaço. Pinto e bordo."
CFA.
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