Ele sempre quis espaço, não perder a liberdade, aproveitar a
vida. Mas queria também a menina que sempre esteve ali, com o coração na boca,
esperando ansiosa pelo dia em que ele resolvesse ficar com ela de verdade. Teve
tempo em que ela sentou, esperou, chorou. Ele vacilava e a convencia de que
ninguém ia tentar protegê-la tanto quanto ele, aí ela lembrava de outros
idiotas e então aceitava, voltava pro seu lugar. Aí foram aparecendo tantos
outros caras, tanta gente querendo que ela levantasse, tantos que nem teriam
feito a moça sentar. Ela pensou, se olhou no espelho, se pediu desculpas e fez
promessas, prometeu se fazer feliz sozinha, a qualquer preço. Ele sempre ia,
voltava e a encontrava sentada, no mesmo lugar de sempre, com planos e
carinhos. Aí ele dava a ela uns minutos contados de felicidade e voltava pro
mundo, sem se preocupar com a volta ou com ela enquanto não houvesse a volta.
Até que um dia ele voltou e a cadeira estava vazia, com um bilhete de "Se
cuida, te quero bem", que escondia uma história e mil mágoas. E voltar pro
mundo, continuou sendo bom, mas não era a mesma coisa. Porque lá no fundo, ele
sempre soube que naquela cadeira tinha mais que uma menina com planos anotados,
chorando á toa e querendo atenção. Ele sabia que a felicidade de verdade tava
ali sentada também, que ali ele não precisava beber e ser engraçado, que ele
podia contar os problemas, o dia e ia sempre ouvir palavras doces. Que a menina
sentada, sempre acreditou nele mais do que ele próprio e sempre que ele pensava
em desistir de um sonho, ela nunca deixava. Ela esperava mais do que ele voltar
com aquele pouco tempo de sempre, ela esperava que ele fosse feliz. Mas agora
tá lá, a cadeira e o bilhete borrado, alguns sonhos pelo chão e uma história de
amor, voando pela janela, livre, porém pesada. Ele ainda volta e se depara com
o mesmo cenário, cada vez mais frio e menos colorido. E, veja só, agora quem
espera é ele. Espera que ela volte e tudo seja cômodo como sempre, feliz como
só era na presença dela, sempre confusa, ingênua e encantadoramente inteira.
Mas a menina tá longe, depois que levantou, não aceita mais se sentar e esperar
pelo tempo de ninguém. Porque todo dia que ela acorda, ela sorri, pra nunca
mais deixar apagar esse brilho que sempre lhe foi peculiar. Porque a vida é
mais do que um cara e uma cadeira e hoje ela sabe disso. Ela se ama sozinha e
recebe carinhos desses moços, que entre ir pro mundo e encontrá-la, deixam o
mundo pra depois. E tudo vira aprendizado, não é mesmo? Hoje ela é quem visita
rapazes em cadeiras, não por maldade, mas por medo de ter que voltar a sentar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário