Tabatha levanta da cama, toma café e
procura uma roupa qualquer, enquanto fala no telefone, atrasada. Atrasada pro
trabalho e pra alguma coisa, que ela não sabe o que. Trânsito de sempre,
impaciência de sempre, música pra tentar relaxar. Ela tava com sono e cansada,
em todos os sentidos possíveis. Que comece mais um dia normal, banal.
Estressada, mas sorrindo por qualquer coisa, até o fim do expediente. Na volta,
trânsito de sempre, impaciência de sempre, sensação de ter esquecido algo.
Talvez no escritório, talvez em alguém. Chega em casa e se joga no sofá. O
telefone toca, é sexta-feira. "-E aí amiga, já chegou?? Tô passando aí em
uma hora, se arruma e me espera, tô super animada!" 'Animada pra que?' era
o que ela pensava, respondeu "-Pode deixar! Amiga, falei com o Diego ontem.
Ele disse que se arrepende todo dia de ter deixado eu ir embora e que eu sou
especial, essas coisas. Sei lá, não tive recaída sabe, mas é tão bom ouvir
isso." Era sexta-feira, dia obrigatório de ser "feliz", a amiga
não deu muita importância e tratou de apressá-la "Ah, que baixo astral
hein! Ex bom é ex-trangulado gata. Não sei pra que você insiste em dar atenção
pra esses idiotas, carência é uma coisa! Já ta pronta? Tem dez minutos a menos,
tchaaau!" Curta, grossa e certa. Vestido curto, salto alto, maquiagem
carregada, perfume forte e, ainda assim, dava pra ver a menina assustada
travestida de mulherão. Chegando lá, música boa, pessoas chatas. Mesmos
carinhas, mesmos papinhos, mesmas piadinhas, mesma pergunta em mente 'O que eu
vim fazer aqui?'. Essa música é ótima, mas enquanto ela dança chega um rapaz
com a conversa mais furada do mundo, pra variar. Fingindo interesse pela
história dela, enquanto só pensa na melhor maneira de tirar aquele vestido. Ela
vai pro bar, ao encontro da amiga, que estava bem à vontade, rindo e cercada de
idiotas, que deviam estar pagando o quinto ou sexto drink pra ela. A amiga, já
com o batom borrado e ainda tentando se fazer de difícil, brincou "Garota,
cada dia seu vestido tá mais curto, suas sombras mais pesadas. Onde você quer
chegar, hein?" Sem hesitar "-Queria chegar na resposta pra essa
pergunta. Mas eu não sei mais onde ir, o que fazer, o que sentir. Só sei que tô
cansada de sentir as coisas a flor da pele e depois ter que trasbordar tudo
isso pelos olhos, poros. Tô cansada de pedir vodka e só vir com gelo e nada de
paz. Tô cansada de ouvir palavras vazias, pessoas vazias, desculpas vazias.
Talvez eu seja inteira demais pra essa boate, essa cidade, esse mundo. Encurtei
o vestido, porque não é isso que importa? Pernas, bundas e peitos. De que vale
coração hoje em dia? Vocês nem sabem usar, acham que é brinquedo e eu já
conheço o final desse filme. Quero trocar de cena, personagem, roteiro. Só
isso." A amiga, confusa, alcoolizada e sem fazer questão de entender, riu
"- Já tá bêbada, né!" e foi dançar com o cara forte de blusa rosa. E
ela sussurrou "-Quem dera. Tô sempre sóbria demais. Esse é meu
problema.". Enquanto os caras olhavam como quem escolhe carne num açougue,
ela bebeu mais vodka, ficou mais sóbria e foi embora com o salto na mão, o
equilíbrio na bolsa e o amor-próprio escorrendo junto ao rímel. Ela não
precisava de um lugar cheio de homens simples e mulheres problemáticas,
encurtando os vestidos e pesando na maquiagem. Ela não precisava puxar assunto
com o ex, pra ouvir o quanto ele se arrependeu de tê-la perdido e o quanto ela
é especial. Ela só precisa de alguém que ela não precisasse, novo em folha, que
nunca tenha sentido o peso que ela nem sempre consegue disfarçar. Uns carinhos
que não acabem em dor. Alguém que arranque sorrisos e não lágrimas. Precisa de
alguém que entre na vida dela e que fique. Não por pressão, obrigação,
cobranças ou sufocação. Que fique só porque o sorriso dela dá paz e é disso que
todo mundo precisa.
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